Espaço a serviço da sonoridade na poesia pulsante em diversidade de imagens. Para ler com consciência, bom humor e o coração em chamas. Apreciem com Imoderação.

Monday, March 27, 2006

Ofício Melodia Sensorial



Creative Commons License
This work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivs 2.5 Brazil License.

TRÊS DESEJOS

Eu quero mais do seu sorriso
como se não fosse censurado
quem de nós saiu magoado?
pelo que dissemos antes
ouvindo o que não era preciso

Eu quero um toque de ilusão
como se tivéssemos presentes
quem de nós foi indiferente?
pelo que sentimos antes
estraçalhando o nosso coração

Refrão
Os desencontros são desiguais
enquanto o amor for pra valer
de tanto querer e pedir mais
nossos desejos são em três
e entre nós é pra valer

Eu quero um desejo no olhar
como se fossemos amantes
quem de nós segue adiante?
pelo que se diz culpado
partindo sem nos perdoar

Eu quero esquecer os erros
como se estivessem errados
quem de nós vive do passado?
pelo que fizemos antes
de nos amarmos por inteiro

Refrão
Os desencontros são desiguais
enquanto o amor for pra valer
de tanto querer e pedir mais
nossos desejos são em três
e entre nós é pra valer

ZERO BALA

Verso
Quando o sol
descansar no horizonte
serafins vão dispersar
um gole cigano do seu mau olhado

trafego por um amor desmanchado
destinado a coadjuvar
seu egoísmo mastodonte
num besteirol

Quando a voz
consentir a quem cala
silenciando um lamento
ou a trilha sonora de cada garganta

desatino algum mal que me espanta
crio um novo momento
quero amor zero bala
tinindo em nós

Refrão
zero bala e cheio de bossa
se o que nos dá prazer
atormenta de fome e consome nossa juventude
zero bala e cheio de bossa
são os revezes da vida
na viva inquietude o reverso de tantas virtudes

DEVERES MODERNOS (Para alguém que se foi)

Meu bem
esqueça o próprio umbigo
coração quer um ombro amigo
quilômetros de atenção

bem sei
desbravamos nova aurora
e o destino nos levou embora
fez-se o senhor da razão

suba as ladeiras da alma
num vaso de mágoas vadias
nas esquinas suspira o acaso
esquece da dor e lhe acalma

mergulhe na teia da vida
que o futuro insiste em tecer
esbarre em meu olhar seguro
pra manter sua alma aquecida

Refrão
Lá vem você
no tilintar dos sonhos que eu lhe dei
se era um sopro de vida nem sei
lá vem meu bem
com o sorriso maroto de alguém
que sinaliza medonho
é reluzente de sonho
talvez eu sei

meu bem
a luz dos deveres modernos
em paz com seu ventre materno
quer fôlego e proteção

acorde no sonho fecundo
madrugada refez a aurora
o garoto no fim da estrada
é um anjo do novo mundo

UM DEDO PARA AMAR

Eu lhe ofereço o polegar
pra você fisgar um braço
mas se me der um abraço
tens um corpo pra morar

cada macaco no seu passo
o compasso vai adiantar
faço hora em meu disparo
corro para lhe encontrar

eu lhe concedo o desejo
que acende em seu olhar
e se tudo mais incendiar
atendo e faço que não vejo

cada dedo em minha mão
traçou um rio pra navegar
quer ancorar meu coração
nas águas que você trilhar

Refrão
disfarço os dias
brinco nas rodas
rutilo nos sonhos
desarmo o suspiro
folgo nas horas
viro um vampiro
soluço nas flores
desperto meu sol
quebro nas ondas
acerto nas cores
reforço meu céu
conserto o espírito
e fecho meus olhos
pra você me beijar

eu lhe convenço no altar
do eterno amor presente
eis a dádiva convincente
cabe a quem souber amar

cada máscara desfigurada
traz um rosto em seu lugar
somos figuras mascaradas
no barco que a vida zarpar

SANTO AMOR MESTIÇO (Para Soteropolis)

Se o coração estiver em brasa
meu bem não queira controlar
lençóis inquietos
vorazes discretos
ferinos afetos do corpo a casa

na mulata doida aranha Rastafari
amor meu emaranhado moleque
chamego diuturno
sonho de consumo
meu dendê, meu fumo pelos ares

Refrão
meu Brasil é a mestiça soma
de sabor e pranto
vendo o mar sorrir pela Baía
de todos os santos

Se o menino falar com Iemanjá
os peixes dão a volta ao mundo
sabotando a fome
desejo é seu nome
aparece e some na beira do mar

tenho sim o santo amor mestiço
pimenta trigueira sabe temperar
aroma sossegado
balaio aveludado
o anjo ousado lá do meu cortiço

Refrão
meu Brasil é a mestiça soma
de sabor e pranto
vendo o mar sorrir pela Baía
de todos os santos

porque nossa fé não tem raça
porque nossa alma tem graça
porque nossa gente não passa
porque nossa voz tem fumaça
porque nossa força tem massa
porque o amor jamais é farsa

ALTA VOLTAGEM

Há tanto espaço
no vácuo que você deixou em minha vida
unhas compridas, doses a mais
servindo águas profundas

faz tanto estrago
rodar na estrada mais um beco sem saída
voz de partida, estilhaços reais
soluçam mágoas imundas

nós vamos dar outra desculpa
nas horas cheias, nos lugares vagos
no jeito pago por nossa culpa
vale o descaso

Refrão
São as viagens em alta voltagem
que me tiram do sério e do chão
não há destino, tampouco passagem
sem meus braços em sua direção

nós não pedimos o que nos separa
nós não nos unimos em vão
se o fogo-serpente rastreia sua tara
e lhe entrega ao meu coração

Verso
Há muito tempo
na perfeição dos erros que passam batidos
som distorcido, prece em paz
reserva boas companhias

nós vamos dar outra opinião
nas horas cheias, nos lugares vagos
o silêncio no lago da solidão
vale a disputa

FLORES NA VIA SACRA

Amar antes do vício
amar depois da guerra
silêncio é só o início
bom cabrito não berra

amar sem restar sobras
amar sem fazer cena
ser pau pra toda a obra
às vezes vale a pena

amar antes da culpa
amar depois do crime
pediremos desculpa
nada mais nos redime

amar sem compromisso
amar com propriedade
na doença e no dó disso
na saúde e na saudade

sem você fiquei sangrando
só ao sangrar fico sabendo
se o silêncio está sobrando

Refrão
acenda a luz eterna/ onde estou
acenda a luz eterna/ onde estou
a escuridão me deletou

Verso
amar por ser sagrado
amar se for maldito
no prédio condenado
no templo esquisito

amar a face oposta
amar o mesmo lado
façam suas apostas
roto ou esfarrapado

sem você fiquei sobrando
só ao sobrar fico sentindo
se a solidão está somando

ALGUÉM SEM NINGUÉM

Por ter a lição merecida
sem seu doce castigo
sem ter você comigo
despedaço meus anjos
e o céu me foi perdido

por ter o deserto glacial
sem seu calor humano
sem ter andor profano
despeço-me dos planos
e seus preciosos delitos

por tão anônima solidão
sem seu carinho perto
sem ter o alinho certo
desfaço minhas malas
e o resto deste mundo

Refrão
Alguém sem ninguém
qual o mal que isso tem
qual o mal que isso faz
se é que isso faz bem

pelo eterno anti-horário
sem seu olhar preciso
sem terminar em riso
dispensei meus motivos
e seus lábios onde estão

por ter as obras erradas
sem seu personagem
sem ter sua coragem
disso que partilhamos
e de sonhos lhe trazem

Refrão
Alguém sem ninguém
qual o mal que isso tem
qual o mal que isso faz
se é que isso faz bem

UM CÁLICE DE SOLIDÃO (Para Ricardo)

Minha letra miúda
desprezo do olhar
livros de auto-ajuda
não irão lhe salvar

meu gole indiviso
hábito a se perder
falso dente do juízo
deixa-nos a sofrer

meu imenso vazio
dupla insensatez
longe corre seu rio
a vertente se fez

Refrão
Hoje o sol nos aquece e não há calor
hoje a vida humana não nada a favor
rende-se o amigo na solidão da alma
hoje o índio tão jovem abandona a taba
hoje o céu nos protege, amanhã desaba
finda a dor-tormenta que não se acalma

minha cruz trivial
urgente redenção
oculto descomunal
seu caro coração

meu visto fraterno
disperso chegar aí
tudo mais é eterno
por você e por vir

Refrão
Hoje o sol nos aquece e não há calor
hoje a vida humana não nada a favor
rende-se o amigo na solidão da alma
hoje o índio tão jovem abandona a taba
hoje o céu nos protege, amanhã desaba
finda a dor-tormenta que não se acalma

FLOR DE SEDUÇÃO

Nós fomos tão ausentes
nos braços da solidão
hoje almas dependentes
por amor e por paixão

boca quente e carnuda
beijos que não tem fim
tal qual laranja graúda
cai do pé só para mim

mulher flor de sedução
vênus passeia comigo
entre pés, seios e mãos
não corro mais perigo

Refrão
Do paraíso até o céu
com você eu quero estar
com o beijo para adoçar
da boca provar o mel

Nós somos tão perfeitos
no limiar das carícias
servidas no mesmo leito
raro ninho de delícias

tez morena inseparável
êxtase do bem querer
seu olhar é indecifrável
faz até o mudo gemer

olhos verdes mareados
lume navega em mim
seu corpo é meu aliado
roseira do meu jardim

Refrão
Do paraíso até o céu
com você eu quero estar
com o beijo para adoçar
da boca provar o mel

AMORZINHO BOM

Refrão
Que bom é ter um amorzinho
dentro do meu coração
como é sincero o carinho
de uma grande paixão

que bom é ter um amorzinho
dentro do meu coração
girar o mundo bem juntinho
segurando a sua mão

Verso
Sou de você e você de mim
tudo porque

o amor nunca tem hora
nem dia pra acontecer
quando chega se demora
só o amor é pra valer

sou de você e você de mim
tudo porque

o amor quando devora
deixa a gente sem comer
olho gordo vai embora
fica então o bem querer

fiz um final feliz

Refrão
Que bom é ter um amorzinho
dentro do meu coração
como é sincero o carinho
de uma grande paixão

que bom é ter um amorzinho
dentro do meu coração
girar o mundo bem juntinho
segurando a sua mão

ÁGUA BATENDO NO QUEIXO

Nina
guarde o beijo para os comerciais
desejo é a jaula de dois animais
Nina
esqueça as flores e os diamantes
e da eternidade terna dos amantes
Nina
tão bom quando acaba bem
Nina
feche os olhos e abra seu coração
coragem é o meio de locomoção
Nina
espante a poeira do velho retrato
e o passado feito de gato e sapato
Nina
tão bom quando acaba bem
Nina
garanta uma vaga ao nosso amor
solidão é o frio roubando calor
Nina
viva as custas da emoção infinita
e das verdades que nunca são ditas
Nina
tão bom quando acaba bem
Nina
queira o abraço e não a despedida
audaz é o senhor de cada partida
Nina
ligue o rádio e peça nossa canção
e o amor irá voltar com toda razão
Nina
tão bom quando acaba bem

Refrão
Não maltrate nosso amor
sei que está saindo dos eixos
com água batendo no queixo
na correnteza da dor
não lhe torture, por favor

SOFRENDO AOS PÉS DA SANTA

Partiu meu coração e foi embora
deixando-me a sós com a solidão
sem dó e nem pena
sem dó e nem pena
o sentimento transformou-se em maldição

traiu minha confiança e saiu fora
calando-me a fala com o silêncio
sem dó e nem pena
sem dó e nem pena
o desatino fez de um homem seu resquício

devassou meu viver e foi adiante
remindo-me o pecado no inferno
sem dó e nem pena
sem dó e nem pena
o suplício breve e envilecido fez se eterno

fadou minha alma e está distante
restando-me a metade pelo meio
sem dó e nem pena
sem dó e nem pena
a desilusão da vida atingindo-me em cheio

Refrão
Senti na carne o fruto proibido
senti na alma a glória florescer
e aos pés da santa vivo a sofrer
vesti o manto da eterna súplica
despi o pranto num santo viver
e aos pés da santa vivo a sofrer

santificado seja o fim da dor
bem aventurado será o amor