Ofício Cadência Visceral
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ANTES DO FIM
Cada dia é um dia livre
para quem quiser partir
trilhar novos caminhos
ou simplesmente ir
cada dia é um dia certo
para o que nós temos feito
e se o tempo for escasso
faremos do mesmo jeito
cada dia é um dia a mais
para os sonhos que virão
com ares de independência
de uma nova geração
Refrão
Quero pousar em seu quintal
com asas feitas de cetim
do nosso encontro até o final
será legal e sempre assim
quero pousar antes do fim
antes do fim, até o final
cada dia é um dia justo
para abolirmos preconceitos
e nós que temos a tarefa
faremos do nosso jeito
cada dia é um dia nobre
para quem sabe perdoar
e nós que somos boa gente
há tanto pra recomeçar
Refrão
Quero pousar em seu quintal
com asas feitas de cetim
do nosso encontro até o final
será legal e sempre assim
quero pousar antes do fim
MUXINGA NORDESTINA (Para a Cultura do Povo Nordestino)
Verso
Só vim morar na praia
espraiar o meu coração
é no bê-á-bá da gandaia
onde brota a inspiração
só vim beber da fonte
no horizonte do sertão
dum povo rinoceronte
faz das tripas coração
tem que fazer
um gostoso rebuliço é sarará meu bom mestiço
do batuque-compromisso e desvelado cidadão
o ioiô, o ioiô, o ioiô é o sarapatel de noviços
fervilhando impertinente reorganiza a confusão
Refrão
Quem quer sorrir quer voltar a ser feliz
diz a torcida organizada
quem quer um bis quer amar e ser feliz
pestanejou com a bordoada
Verso
Só vim em pleno carnaval
os quitutes do mestre Gil
Caetano e enfim Dorival
menestréis do meu Brasil
só vim ter o pôr do sol
no arrebol do nordeste
e hoje eu canto em prol
de todo "cabra da peste"
tem que dizer
a cultura do meu canto serve para o seu espanto
multiplica o acalanto um chote, xaxado ou baião
o ioiô, o ioiô, o ioiô é o cordel da embolada
que alivia o desencanto dentro do meu coração
Refrão
Quem quer sorrir quer voltar a ser feliz
diz a torcida organizada
quem quer um bis quer amar e ser feliz
pestanejou com a bordoada
RELÓGIO DA REVOLTA
Verso
Nós que oramos calados
entre os dedos cruzados da fé
se até a voz do povo controlam
pois nem mais de Deus a voz é
nós que pagamos o pato
também financiamos o mico
pro circo manter os palhaços
que levam suas vidas no bico
acorde cedo
para encobrir os erros
vá desencanar o medo
no pingo de honestidade
acorde seco
como num tiro certeiro
dar respostas ao enredo
é interesse ou amizade?
Refrão
Se compadece
tudo acontece em volta
do relógio da revolta
no ponteiro da razão
Se amanhece
tudo esclarece em volta
do relógio da revolta
no horário de verão
Verso
nós que engolimos a seco
o que a mídia nos dá de comer
um banquete servido aos ratos
somos gratos por nos perverter
sobra fermento
no alimento da esperança
e a gente então se cansa
é o não fazer por merecer
QÜIPROQUÓS
O insensível "três oitão"
soberba violência escarra
eis a Nossa Senhora Loba
e são quarenta coronhadas
rasga o peito e vale tiroteio
escolta a leoa hemorrágica
prole ou proletariado
um pouco de tudo que
é pouco pra nós, aqui é
ter um vírus hereditário
dissemina depois arrasa
pobre casa do proletário
Victor ou incógnita
o idiota não tem escolha
seja feita a vossa vitória
o fantoche deve se eleger
falso receio é quando os
meios justificam o poder
faça seguro de vida
pague o suicídio até o final
a morte descansa no caixão
mas o custo é sobrenatural
e no comércio além-túmulo
os vivos lucram em silêncio
balbúrdia ou solidão
é o movimento dos "sem-dó"
no porão do individualismo
na frágil sombra do cinismo
almas penadas aos "cocorocós"
chocam um ovo por diversão
o ser humano está nu
defecam em sua privacidade
bem-vindo homem-sanitário
ao carcerário mundo virtual
se entregue sem integridade
rindo com as calças na mão
carunchos da inanição
flagelam outro recém-nascido
indiscretos comem nosso lixo
nosso bicho em decomposição
serve na hierarquia da miséria
o prato mais fundo do descaso
Viagra ou bicho de pé
na ciência a serviço do coito
virilidade também se fabrica
queira molhar vosso biscoito
e se há tenra carne de mulher
o tesão é a pura água da bica
no torcicolo de idéias
existem múltiplas distorções
fazem de tudo com a verdade
o crime aguarda recompensa
porque não restam soluções
só há liberdade de imprensa
nós somos cegos
nós somos surdos
nós somos mudos
não opinamos
não escutamos
nós aceitamos a escuridão
nós somos povo
nós somos raça
nós somos caça
não abatemos
não segregamos
nós perdoamos de coração
DITA A LEI (SEXO, DROGAS & PALAVRÕES)
Nossos vícios na esquina
nossos gritos a flor da pele
ninguém aprende o que vovó ensina
nossas mentiras não enganam mais
há mais que um sonho de menina
há o inferno até que o mundo gele
ninguém entende o que vovó ensina
há pouco tempo para um bom rapaz
nem o céu para um ultraleve
nem o exército que se aproxima
o dollar prepara a fé lá em cima
e a elite caça onde não deve
Refrão
Dita a lei, USA
como ocultar segundas intenções
dita a lei, USA
teleguiar a discórdia entre nações
dita a lei, USA
respire: sexo, drogas & palavrões
is this american way?
nosso perigo ainda é o Brasil
nosso destino livre do conflito
ninguém a bordo dos seus navios
nossa coragem abandona o mar
há mais que o medo do desafio
há um calendário para o infinito
ninguém a bordo dos seus navios
há muito petróleo se alguém faltar
nem o umbigo do fanatismo
nem o prostíbulo imperialista
o poder acolhe outro estadista
e o povo prega o terrorismo
OS TAMBORES CARDÍACOS
Verso 1
Eu vejo sombras ao meu redor
não tenho sonhos, eu tento esquecer
que a maioria sempre foi menor
e o homem sábio é o último a saber
eu tenho medo, mas não tenho dó
não tenho nada para lhe oferecer
já a minoria sempre é bem maior
e o homem cego perde-se ao ver
eu vejo luzes nas grandes cidades
quando o abraço diminui a poluição
quando aumenta nossa ansiedade
e a humanidade entra em depressão
eu tenho tempo, mas não tenho fé
não me conformo com religião
não me consola quando estou a pé
Deus virá logo pela contramão
Verso 2
risque o fósforo dos preconceitos
anjos em brasa andando nos trilhos
não há justiça onde se vê defeitos
e alguém engole pra não escarrar
risque o fósforo do conformismo
pirão sem gosto servido aos porcos
falta atitude onde sobrar cinismo
e ninguém mais pedir pra vomitar
Refrão
restos mortais, descansem em paz
no sonho maníaco do homem barbado
restos mortais, descansem em paz
os tambores cardíacos estão enfartados
em sonâmbulos corações
em sonâmbulos corações
MÃO Á PALMATÓRIA
Nem tudo o que reluz é ouro
nem tudo o que seduz é louro
nem mesmo tem o que se gosta
nem todo mundo vira as costas
nem tudo o que se perde se acha
nem toda Xuxa tem sua Sacha
nem tudo o que se ganha é pão
nem mesmo tem uma explicação
eu troco o disco da vida inteira
por bons minutos de imperfeição
como quem compra uma geladeira
à primeira vista, de segunda mão
nem tudo o que se aprende é útil
nem tudo o que se acende é fútil
nem pense em fugir de casa
nem todo o fogo arde em brasa
nem tudo o que se mira é alvo
nem Jesus Cristo quis ser salvo
nem tudo corresponde aos fatos
nem mesmo cobras e lagartos
eu jogo os dados da juventude
nas longas rotas chegar ao futuro
como quem muda suas atitudes
para não dar com a cara no muro
Refrão
ninguém entende o que nos aproxima
ninguém entende o que nos aproxima
sem dar a mão à palmatória
ninguém entende o que nos aproxima
ninguém entende o que nos aproxima
sem dar a mão à palmatória
afinal de contas é o fim da história
afinal de contas é o fim da história
DA ORDEM NO CAOS
Há ordem nos céus
vivemos em paz
os lobos de guerra
não sangram heróis
tem bolero de Ravel
Piazzola me traz
novidades da terra
labirintos e lençóis
há ordem no caos
pois te amo demais
somos a nova era
bandos e bandeiras
tem valsa de Strauss
passeio em Alcatraz
a bela surte a fera
com boas maneiras
Refrão
ninguém quer manter a ordem
ninguém quer manter o caos
subverter o caos em desordem
há ordem nas horas
driblando minutos
buscando teu rosto
em águas passadas
purgamos a mora
extraímos o bruto
o céu está disposto
não devemos nada
Refrão
ninguém quer manter a ordem
ninguém quer manter o caos
subverter o caos em desordem
MÚSICA DE RESISTÊNCIA
Use o "Brasil-colônia"
numa loção após séculos
há décadas de insônia
Amazônia mora ao lado
fale a "Hora do Brasil"
cale os "Anos de Chumbo"
a boca pequena varonil
diz o milagre censurado
e se é coisa do passado
era o velho "Estado Novo"
o cadafalso para a glória
no calabouço da história
há quem tema pelo povo
e se o risco é calculado
era o cântico subversivo
o bálsamo para o medo
no bastardo do degredo
há quem tenta ficar vivo
Refrão
minha boca é um túmulo
leio teus lábios feito louco
no cemitério de aparências
irão nos enterrar aos poucos
minha prece é um insulto
sigo tua ordem feito bravo
num cenário de resistência
já nascemos como escravos
verso
siga a família operária
quanto desdém industrial
preso a ânsia libertária
sobram dedos calejados
e se é coisa do passado
era o "Milagre Econômico"
o heroísmo programado
no egoísmo orquestrado
há o "leão transamazônico"
REALIDADE CLANDESTINA
Verso 1
Pelos dólares de quem sofre
dispensei as chaves do cofre
armei o circo por um vintém
sonhei um verso sem estrofe
escondido atrás do apóstrofe
ao poema-desatino caiu bem
quanto é que se pode amar
quando se está inadimplente
quando é impossível pagar
quanto mais cobrar da gente
para o notebook do vampiro
há litros de sangue-antivírus
encaro dowloads novamente
a mira do hacker clandestino
deletou nosso sorriso cretino
e por religião é ser descrente
quando é que iremos notar
quanto o coração é acessível
quanto se permitiu acessar
quando tudo era permissível
Verso 2
o clã destinado ao clandestino
o fã na miragem do fanatismo
e cenas da próxima home-page
a moral lesada do moralismo
as sete imagens do ceticismo (os sete pecados capitais)
no novo cd de música new-age
Refrão
Graham Bell atende o celular
inteligência artificial
Graham Bell desliga o celular
realidade clandestina
SÍNDROME DA ABSTINÊNCIA
Larguei de mão
euforia e depressão
se fizer parte do problema
sabotar é a solução
larguei de mão
nicotina e alcatrão
se fizer parte do esquema
enfisema faz verão
larguei de mão
misticismo e religião
se tudo é parte do sistema
intriga da oposição
larguei de mão
cafezinho e chimarrão
se tudo é parte do fonema
tenha boa digestão
Refrão
Há precisão cirúrgica
e analgésica paciência
tranqüilidade sedativa
síndrome da abstinência
há causa e conseqüência
larguei de mão
a escada e o corrimão
se sobe e desce é o dilema
inércia do coração
larguei de mão
realidade e ficção
se tudo isso é um teorema
na eterna confusão
Refrão
Há precisão cirúrgica
e analgésica paciência
tranqüilidade sedativa
síndrome da abstinência
há causa e conseqüência
DE VOLTA A CIVILIZAÇÃO
Passei o final de semana
comigo dentro de casa
debaixo da própria asa
e além da imaginação
Segunda na biga romana
a fatalidade dita e feita
acima de toda suspeita
de volta a civilização
um diamante solitário
lapidando o coração
segue o dia no horário
a noite é pura ficção
Refrão
Pra que voltar, pra onde ir
se não me deixam falar
nem querem me ouvir
Passei a limpo à memória
tinha o coração na mão
contraindo em tentação
na paciência de existir
sem vez é caça predatória
quando tiroteio explode
e o viaduto nem sacode
pela tangente é só sair
um diamante solitário
lapidando o coração
terá o ódio hereditário
ou amor de imitação
Refrão
Pra que voltar, pra onde ir
se não me deixam falar
nem querem me ouvir
pague pra entrar, reze pra sair
de volta a civilização
pague pra entrar, reze pra sair
de volta a civilização
OVERDOSE HOMEOPÁTICA
Ilustres desconhecidos
"Demônios da Garoa", "Anjos do Asfalto"
trindade de salto alto
a verdade nos ouvidos
provérbios inflamáveis
cortina de fumaça e ogivas de papel
tríade em lua-de-mel
usam olhos reviráveis
hipocrisia programada
a era da inocência, o pecado original
trilogia do ato sexual
castigo, cruz e espada
Refrão
Última dose, uma dose a mais
o que te ilude e o que te move
primeira dose, dose as demais
o que te sobra numa overdose
vozes velozes numa overdose
vozes velozes numa overdose
overdose homeopática
laços de amizade ou rotas de colisão
triunfo ou destruição
nova cruzada catártica
sanguessugas no jantar
verdade seja dita, mentiras no jornal
tribos em tempo real
e kamikazes vão ao ar
Refrão
Última dose, uma dose a mais
o que te ilude e o que te move
primeira dose, dose as demais
o que te sobra numa overdose
vozes velozes numa overdose
vozes velozes numa overdose
JOGOS DE AZAR
Cruze os dedos
de braços cruzados
ao cruzar o sinal
é bife mal-passado
vale quanto pesa
não vale um centavo
validade expirada
é trabalho escravo
vista a camiseta
despido de pudores
Mefisto a olho nu
invertendo valores
Refrão
Ledo, ledo engano
medo é um segredo mano a mano
ledo, ledo engano
das horas que entramos pelo cano
desça do pedestal
flutue em ascensão
satélite invisível
controla a situação
atire a sangue frio
no calor da emoção
cupido psicótico
vergasta o coração
espere um minuto
não chegue atrasado
encare o absurdo
de olhos vendados
Refrão
Ledo, ledo engano
medo é um segredo mano a mano
ledo, ledo engano
das horas que entramos pelo cano
ledo, ledo engano
e o erro permanece sendo humano
ATMOSFERA CARNÍVORA
Eu saio pela tangente
eu jogo conversa fora
eu banco o adolescente
e oro fora de hora
eu crio expectativa
eu deixo de ir embora
eu gasto toda saliva
e oro fora de hora
eu mato no cansaço
eu morro se demora
eu corro para o abraço
e oro fora de hora
Refrão
Deuses eternos, simples mortais
bater no peito é saber se existe
ossos do ofício, prazeres carnais
valem o direito que me assiste
eu saio de circulação
eu entro na atmosfera
eu peço com educação
e era as vezes de fera
eu alimento ilusões
eu nasci na primavera
eu sigo lendo Camões
e era as vezes de fera
eu ganho experiência
eu sei o que me espera
eu vivo em evidência
e era as vezes de fera
Refrão
Deuses eternos, simples mortais
bater no peito é saber se existe
ossos do ofício, prazeres carnais
valem o direito que me assiste
VINHETA BÉLICA
Desarme o silêncio
com palavras de ordem
sal a gosto da hora
vira abril e vai embora
dispare hiper-tenso
com rajadas no estoque
amargo da demora
vide bula em boa hora
desastre a contento
com adagas em choque
a verdade apavora
em caixas de Pandora
Refrão
Crianças crescidas
suas cobras criadas
um paraíso perdido
seus pés e pegadas
tatuagem preferida
em edição limitada
destrua o consenso
com armamento pesado
nossa face dispara
ao coração do Sansara
de lua o sentimento
como um beijo roubado
vale uma jóia rara
diga adeus minha cara
Refrão
Crianças crescidas
suas cobras criadas
um paraíso perdido
seus pés e pegadas
tatuagem preferida
em edição limitada
VINHETA URBANA
A chama de luz eterna
o salto na escuridão
o passo maior que a perna
baderna por diversão
a água que virou vinho
o amor que vira ódio
os cegos pelo caminho
daninho que leva ao pódio
a hora que não passa
o sono que não vem
o riso perdeu a graça
a praça, o sol também
a cara e a coragem
o pouco mais que nada
o excesso de bagagem
triagem da madrugada
Refrão
Um por todos, cada um por si
cada um na sua e todos por um
tudo isso vale, nada vive disso
A orelha de Van Gogh
o olho do furacão
stray cats e hound dog
incógnita em cognição
a partida silenciosa
"O Retorno de Jedi"
o dedo a mais de prosa
ociosamente se vai
a esmola por caridade
o lucro a qualquer preço
o fim e a falsidade
verdade feita de gesso
a beira do precipício
o pico do Himalaia
artefato e artifício
oficio e maracutaia
VINHETA POPULAR
A história se repete
o flashback a revelar
o carrasco é manchete
a sentença é popular
a tarifa se aumenta
o dever gera imposto
o progresso alimenta
a piada de mau gosto
ao vivo e a cores
o jardim virá concreto
e nada são flores
Refrão
No campo de batalha
há mortalha juvenil
e por vezes a navalha
nos deixa por um fio
na zona de combate
há o abate cidadão
na sangria se debate
a vil idade da razão
Verso 2
a memória se apaga
o blackout é maioria
o discurso se propaga
a promessa contagia
a verdade se oculta
o vexame se admite
o operário vai a luta
a miséria não existe
ao vivo e a cores
são efeitos colaterais
de todas as dores
VINHETA PÓS-MODERNA
No solar do lunático
o celular supersônico
o diabo é bombástico
no inferno plutônico
acabe com a retórica
tudo é descartável
na chuva meteórica
de lixo reciclável
no código genético
da própria criação
olho gordo dietético
cega lipoaspiração
acabe com a libido
tudo é informação
na troca de fluídos
da globalização
Refrão
Vidas que se vão
vezes três virão
vozes em verão
invernos da visão
No andar da carruagem
o mundo se oculta
os pixels da imagem
na etérea catapulta
acabe com o intuitivo
nada é espontâneo
no princípio ativo
do orbe contemporâneo
Refrão
Vidas que se vão
vezes três virão
vozes em verão
invernos da visão
LÉGUAS DE EXTINÇÃO (Para a Cultura do Povo Gaúcho)
Tal qual animal no pasto
lastro meus versos com pés no chão
tal qual animal no pasto
rastro imerso em léguas de extinção
tal qual animal no pasto
casto e perverso rumino a mansidão
tal qual animal no pasto
repasto disperso da infértil evolução
a pampa é pobre
mas o campo é vasto
bastando o dono
para tanto pasto
abanda os cobres
e traz mais um regalo
perturba o sono
o cantar do galo
bonjour
pequenos colapsos
grandes destroços
mil ossos ou mais
bonjour
escroques ao maço
ilustres os nossos
sestrosos animais
a terra é mansa
mas a posse é bruta
privatiza o filho
que não foge à luta
amarra a trança
pára mais um pealo
coloca no trilho
sem pisar nos calos
au revoir
amigos do peito
balaço nas costas
opostas à classe
au revoir
péssimo defeito
virtude é suposta
aposta e orar-se
tão puro o animal no pasto
tão páreo o mortal nefasto
PERSONA NON GRATA
Uma noite mal-dormida
uma história mal-contada
perfeita pra contar
uma paixão mal-sucedida
uma mulher mal-amada
perdida para amar
um dever malquisto
um prazer mal-domado
pré-pago pra gozar
um pierrô malvisto
um zorro mal-encarado
preto pra mascarar
e uma bala perdida
no décimo oitavo andar
um certo mal-estar
a porcelana retrata
persona non grata
o bem não amanhece
tampouco o pôr-do-sol
o Guaíba é tiro certo
estilham luzes no farol
e o mal não apodrece
tampouco o Taj Mahal
com sede no inferno
mais um paraíso fiscal
bonum et malum non solus est
in alter vitae momentis
líber homus non confidat in se
atque valia accipientis
e uma bala perdida
no décimo oitavo andar
um certo mal-estar
a porcelana retrata
persona non grata
NAVALHA NA CARNE
Dá-me um berço
para dormir em paz
para dormir demais
nesse mundo voraz
dá-me um beijo
para passar a dor
para passar amor
o filme de horror
e nada vai mudar
tudo finda diferente
o freezer no lugar
de seu corpo quente
e tudo cai do galho
nada resta ao chão
as gotas de orvalho
as bolhas de sabão
é olhar a si mesmo
buscar-se distante
Narciso no espelho
é belo e arrogante
sacrificar o gado
apontar e sangrar
aqui do meu lado
e pra lá de Bagdá
o toque de Midas
o pomo de Adão
o canto do cisne
os calos na mão
e o indo-europeu
o afro-americano
o sangue de Cristo
o corpo humano
a sobrecarga do super-homem
é a sobrevida do sobrenome
INFLAMÁVEL
Tudo se repete
no momento seguinte
do dia vinte de cada mês
tudo tete a tete
nos quintos do requinte
a alameda do acinte, 666
tudo se dissipa
na fumaça de acessos
ao excesso de informação
tudo sobe pipa
o zepelim do progresso
no universo em expansão
Refrão
O cotidiano é exagero
mensagem instantânea
combustão espontânea
e nasce um novo dia
Verso
tudo se projeta
na paisagem artificial
do cartão-postal perfeito
tudo pela dieta
do próximo nu frontal
o juízo final virá ao leito
Refrão
O cotidiano é exagero
mensagem instantânea
combustão espontânea
e nasce um novo dia
coivara dança caxambu
na gafieira da refinaria
coivara dança caxambu
na gafieira da refinaria
OLHOS AQUILINOS
A mesa está posta
nossas bocas tão famintas
nossas mãos sujas de tinta
e a pintura nada vale
a falta de resposta
nossas bocas são malditas
nossas mãos tocam aflitas
e a tortura nada sabe
a chaga já exposta
nossas bocas convencidas
nossas mãos tão proibidas
e a censura nada age
a águia pousou
não basta ser herói
ter visão de raio-x
no mundo de cowboys
diante do nariz
não basta ser poeta
ter as luzes de Paris
no escuro da floresta
diante do nariz
a águia voou
Refrão
Outra viagem etérea
em terceira dimensão
meia passagem aérea
para a alma e a razão
uma vida antimatéria
sem ter tido gestação
meia passagem aérea
para outra dimensão
SOBERANO CORAÇÃO (Para a América livre da ALCA)
Refrão
Nosso povo
todo povo latino americano
caminhando para a conscientização
nosso povo
bravo povo latino americano
soberano será cada coração
Verso
América com liberdade
cada segundo conquistar
o brado contra o imperialismo
é dever do povo proclamar
América com dignidade
aprenda a nos respeitar
"soberania não se negocia"
está em primeiro lugar
Refrão
Nosso povo
todo povo latino americano
caminhando para a conscientização
nosso povo
bravo povo latino americano
soberano será cada coração
Verso
América politizada
no compromisso de mudar
economia independente
é um patrimônio popular
América unificada
um bom lugar para morar
respeitando nossa gente
com liberdade prosperar
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